A experiência poética de Fernando Pessoa com os heterônimos
e a possibilidade de esquecer o conceito de ego.
Devanir Merengué
O poeta Fernando Pessoa escreve:
Não sou nada/Não posso nada/Não posso querer ser nada/À
parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Como alguém que é nada e nem pretende ser nada escreve uma
obra fenomenal que inspira uma infinidade de estudos, sendo essa mesma obra
espalhada por jornais, textos sem assinaturas, papéis rabiscados em guardanapos
guardados em baús produzidos por seus muitos heterônimos, alguns muitos
conhecidos e outros não? A busca por respostas para o mito criado por Fernando
Pessoa instiga mestres e jovens estudiosos em todo o mundo.
Pessoa questiona o conceito metafisico de sujeito como
unidade. Questiona do mesmo modo a sinceridade do poeta em expressar suas
emoções. A partir dai, desdobra, multiplica o que chamamos de eu.
Não sei quem sou, que alma tenho. Quando falo com
sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Ou:
Sinto-me múltiplo. [...] Sinto-me viver vidas alheias, em
mim, incompletamente, como se meu ser participasse de todos os homens. [...]
Ou ainda:
Sê plural com o universo!
No entendimento que faço do projeto moreniano o conceito de
ego não tem uma grande relevância, sendo
com enorme facilidade substituído pela noção de papel. Os heterônimos de Pessoa
se aproximam da ideia de papel? Ou ainda, o que estaria por trás é o mesmo
incomodo, ou seja, ego (talvez diferentemente de sujeito) é um conceito, de
fato, metafisico? A suposta unidade do ego presente na psicologia geral seria
algo artificial demais para levarmos em conta? Nesse sentido, o caráter
fetichista dos conceitos não traria algo de aprisionante para os seres humanos?
Na pratica, sabemos que somos muitos, ou no entendimento moreniano, que somos
apenas papéis?
E, além disso: o fingimento poético de pessoa diz respeito a
um desempenho de papéis? O que diferencia o assumir por um longo tempo a heteronímia
do viver um papel no Psicodrama ou no Teatro?
Pretendo discutir as questões utilizando uma conferencia
psicodramática, com a plateia assumindo papéis dramáticos que se alternam com o
de audiência/coro grego.
Voces sabiam que segundo José Paulo Cavalcanti Filho no livro FERNANDO PESSOA, uma quase autobiografia o poeta portugues criou 127 heterônimos e não apenas 4 ou 5 como usualmente se fala? Devanir
ResponderExcluirE vocês sabiam que o filósofo existencialista, S. Kierkegaard também criou heterônimos? Vigilius Haufniensis, Johannes de Silentio e Constantin Constantius eram personagens que escreviam dialogando uns com os outros...
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