terça-feira, 5 de março de 2013

Proposta de Experimento: Anti-conferência: a vibratilidade do rabo cortado da lagartixa




André Marcelo Dedomenico
Cida Davoli
Claudia Fernandes

Não, isto não é uma metáfora… mas um convite à experimentação de uma problematização. Experimentação de duas dobras da vida, pensamento e corpo. Como estas dimensões cruciais de uma vida potente se articulam na prática socionômica quando atingimos uma certa zona fronteiriça? Um corpo produzindo um pensamento e este criando um corpo... Que corte-acaso foi este que lançou um pequeno pedaço do corpo socionômico para uma região periférica de Minas e ao fazê-lo coloca-nos às margens de uma certa organização, de um certo corpo organizado cientificamente? Ao distanciarmo-nos de uma organização, também nos distanciamos da Biologia, que em sua metáfora de organismo dominou o corpo social e político e se quer a verdade antropológica do homem na contemporaneidade. Nos distanciamos das neurociências, que explica a tudo e a todos a partir de meras reações químicas e nos reduz subjetivamente a uma conjunção de neurotransmissores, num desejo de totalidade que tira a dimensão política da clínica. Mas esta já é a própria política, ou melhor, biopolítica, uma prática majoritária... Corte que nos lança para uma zona de fronteira, onde perdemos um pouco (ou muito) o chão, atingimos um certo limite de si mesmos, nos tornamos marginais, já que passamos a ocupar o limite periférico do círculo... experimentamos um devir-minoritário, numa prática também minoritária, esbarramos nas artes e na filosofia.  Algo se passou entre nós, nos movimentamos e ao fazê-lo produzimos a necessidade de criar. Vida é criação. Psicodrama é criação. Cortados, começamos a vibrar... Nosso primeiro encontro deu-se ainda muito próximo a um centro, Brasília: centro geodésico de poder, das organizações institucionais e quiçá democráticas que regem nossas vidas enquanto cidadãos brasileiros, num plano macropolítico. Mas também e, isto é o mais importante, pois refere-se aos afetos e desejos que nos atravessam, ainda muito próximos de um centro, este mais imaterial, porém não menos real e existente, o local onde se deu nosso último congresso científico, sua organização com seu estriamento de espaço e de tempo, suas grades clamando por um reconhecimento científico e com isso, tornado-nos todos reféns dos valores hegemônicos no contexto social, com suas hierarquias piramidais, onde só há cúmplices, para além de uma compreensão marxista de lutas de classes e dos conflitos entre “iniciantes” e “experientes”, entre professores e alunos, entre novos e velhos psicodramatistas, entre o verdadeiro e o equivocado na compreensão dos conceitos socionômicos... Nada se cria em tal contexto, apenas se repetem os mesmos valores já legitimados pelo staff científico... Neste segundo encontro, tenta-se quebrar as grades para que os corpos se afetem, o corpo coletivo se faz mais poroso, permeável , penetrável e fecundo, o tempo pode fluir com mais espontaneidade e experimenta-se estar a deriva... talvez estejamos frente a um nascimento, o ato de maior espontaneidade segundo Moreno. O nascimento não é o que ficou para trás, num passado remoto ou imemorial, mas o que está por vir... um nascimento é sempre uma transgressão, uma linha de fuga, um esburacamento institucional neste mundo, não para se criar um mundo melhor no futuro, mas de um ato de criação neste mesmo mundo. Uma vida que pede passagem, aqui e agora... uma borboleta que quebra seu casulo para fugir da larva e experimentar a sua potência de vôo... Sua biopotência...
Continua em Uberlândia...

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