André Marcelo Dedomenico
Cida Davoli
Claudia Fernandes
Não, isto não é
uma metáfora… mas um convite à experimentação de uma problematização.
Experimentação de duas dobras da vida, pensamento e corpo. Como estas dimensões
cruciais de uma vida potente se articulam na prática socionômica quando
atingimos uma certa zona fronteiriça? Um corpo produzindo um pensamento e este
criando um corpo... Que corte-acaso foi este que lançou um pequeno pedaço do
corpo socionômico para uma região periférica de Minas e ao fazê-lo coloca-nos
às margens de uma certa organização, de um certo corpo organizado
cientificamente? Ao distanciarmo-nos de uma organização, também nos
distanciamos da Biologia, que em sua metáfora de organismo dominou o corpo
social e político e se quer a verdade antropológica do homem na
contemporaneidade. Nos distanciamos das neurociências, que explica a tudo e a
todos a partir de meras reações químicas e nos reduz subjetivamente a uma
conjunção de neurotransmissores, num desejo de totalidade que tira a dimensão
política da clínica. Mas esta já é a própria política, ou melhor, biopolítica,
uma prática majoritária... Corte que nos lança para uma zona de fronteira, onde
perdemos um pouco (ou muito) o chão, atingimos um certo limite de si mesmos,
nos tornamos marginais, já que passamos a ocupar o limite periférico do
círculo... experimentamos um devir-minoritário, numa prática também
minoritária, esbarramos nas artes e na filosofia. Algo se passou entre nós, nos movimentamos e ao fazê-lo
produzimos a necessidade de criar. Vida é criação. Psicodrama é criação. Cortados,
começamos a vibrar... Nosso primeiro encontro deu-se ainda muito próximo a um
centro, Brasília: centro geodésico de poder, das organizações institucionais e
quiçá democráticas que regem nossas vidas enquanto cidadãos brasileiros, num
plano macropolítico. Mas também e, isto é o mais importante, pois refere-se aos
afetos e desejos que nos atravessam, ainda muito próximos de um centro, este
mais imaterial, porém não menos real e existente, o local onde se deu nosso
último congresso científico, sua organização com seu estriamento de espaço e de
tempo, suas grades clamando por um reconhecimento científico e com isso,
tornado-nos todos reféns dos valores hegemônicos no contexto social, com suas
hierarquias piramidais, onde só há cúmplices, para além de uma compreensão
marxista de lutas de classes e dos conflitos entre “iniciantes” e
“experientes”, entre professores e alunos, entre novos e velhos psicodramatistas,
entre o verdadeiro e o equivocado na compreensão dos conceitos socionômicos... Nada
se cria em tal contexto, apenas se repetem os mesmos valores já legitimados
pelo staff científico... Neste
segundo encontro, tenta-se quebrar as grades para que os corpos se afetem, o
corpo coletivo se faz mais poroso, permeável , penetrável e fecundo, o tempo
pode fluir com mais espontaneidade e experimenta-se estar a deriva... talvez
estejamos frente a um nascimento, o ato de maior espontaneidade segundo Moreno.
O nascimento não é o que ficou para trás, num passado remoto ou imemorial, mas
o que está por vir... um nascimento é sempre uma transgressão, uma linha de
fuga, um esburacamento institucional neste mundo, não para se criar um mundo melhor
no futuro, mas de um ato de criação neste mesmo mundo. Uma vida que pede
passagem, aqui e agora... uma borboleta que quebra seu casulo para fugir da
larva e experimentar a sua potência de vôo... Sua biopotência...
Continua em
Uberlândia...
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